A decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aumentar as tarifas de importação para o aço e o alumínio em 25% gerou preocupações globais, especialmente no Brasil, segundo maior exportador desses produtos para o mercado americano.
Este artigo explora em detalhes como essas medidas protecionistas impactam a economia brasileira, setores-chave, ações na Bolsa de Valores (B3) e quais estratégias devem ser tomadas pelos investidores.
Protecionismo Americano e Respostas Globais
As tarifas comerciais não são novidade na política econômica dos EUA. Durante o governo Trump (2017-2021), medidas similares foram implementadas, afetando parceiros como China e União Europeia.
Em 2024, a retomada dessas políticas reacendeu debates sobre guerras comerciais e seus efeitos em economias emergentes, como México e o Brasil.
Historicamente, o Brasil respondeu a barreiras comerciais diversificando mercados, como o fortalecimento de relações com a China e países do Mercosul. Em 2023, 18% das exportações brasileiras de aço foram para os EUA, enquanto a China absorveu 32%.
Essa diversificação pode amortecer parte do impacto, mas a dependência do dólar e a volatilidade cambial ainda são desafios.

Setores Impactados: Além do Aço e Alumínio
1. Petróleo e Siderurgia
O setor siderúrgico brasileiro, representado por empresas como CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4), enfrenta redução na competitividade devido às tarifas. Em 2024, as exportações de aço para os EUA caíram 12%, segundo a Instituto Aço Brasil.
Porém o petróleo, embora menos exposto, sofre indiretamente com a desaceleração da demanda global.
2. Agronegócio: Risco e Resiliência
O agronegócio, responsável por 48% das exportações brasileiras em 2023, tem exposição ao dólar. Produtos como soja e carne bovina podem sofrer com retaliações indiretas, mas empresas como JBS e BRF possuem hedge cambial, mitigando perdas.
Além disso, a demanda asiática continua aquecida, compensando eventuais quedas no mercado americano.
3. Indústria Automotiva e Bens de Capital
Setores dependentes de aço importado dos EUA, como automotivo e máquinas pesadas, enfrentam custos maiores. A Scania e Volkswagen já sinalizaram ajustes na cadeia de suprimentos, buscando fornecedores locais ou de outros países.
Relações Comerciais: Tensões e Oportunidades
As tarifas de Trump podem redefinir acordos bilaterais. O Brasil, que exportou US$ 28 bilhões em produtos para os EUA em 2023, precisa negociar isenções ou compensações. Uma estratégia em discussão é a ampliação do Acordo EUA-Mercosul, parado desde 2019.
Por outro lado, a China surge como alternativa. Em 2024, o país asiático investiu US$ 15 bilhões em infraestrutura no Brasil, incluindo parcerias em mineração e energia renovável. Essa aproximação reduz a dependência do dólar e abre mercados para commodities brasileiras.

Inflação, Juros e Cenário Macroeconômico
O aumento das taxas de juros nos EUA para conter a inflação pressiona o Banco Central do Brasil a manter a Selic elevada (atualmente em 14,25%). Isso desestimula investimentos em setores intensivos em capital, como construção civil, e amplia o déficit fiscal, projetado em 6,8% do PIB para 2025.
A valorização do dólar também impacta famílias e empresas. Em dezembro de 2024, o dólar comercial atingiu R$ 6,21, encarecendo importações e aumentando a dívida de companhias com passivos em moeda estrangeira.
Retaliações e o Efeito Dominó no Comércio Global
A imposição de tarifas pode desencadear uma guerra comercial, com países como China e União Europeia adotando medidas similares. Em 2024, a UE anunciou tarifas de 15% sobre suco de laranja brasileiro, em resposta às barreiras americanas.
Esse cenário reduz o comércio internacional, afetando principalmente economias exportadoras como o Brasil.
Impacto Limitado: Argumentos dos Otimistas
Alguns analistas, como da XP Investimentos, argumentam que o impacto será moderado. Cerca de 65% da produção de aço brasileira é consumida internamente, e setores como mineração (controlada pela Vale) e energia renovável continuam em expansão.
Além disso, as tarifas americanas ainda não foram detalhadas para todos os produtos, deixando espaço para revisões.
Ações na B3: Quem Ganha e Quem Perde
As empresas de aço e alumínio listadas na B3 têm exposição diferenciada:
- CSN (CSNA3): Mais vulnerável, com 22% das vendas direcionadas aos EUA.
- Gerdau (GGBR4): Menos impactada, pois 40% de sua produção está nos EUA.
- CBA (CBAV3): Exposta a custos de energia, mas beneficia-se da alta do alumínio no mercado internacional.
Investidores devem monitorar também setores resilientes:
- Energia Elétrica: Copel (CPLE6) e Equatorial (EQTL3) têm receita regulada e proteção contra inflação.
- Saneamento: Sabesp (SBSP3) e Sanepar (SAPR11) atraem investidores em busca de estabilidade.
- Bancos: Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) lucram com juros altos e crédito rural.
Estratégias para Investidores em Cenário de Incerteza
1. Diversificação Internacional
A alocação em ativos globais, como ETFs de mercados emergentes ou ações de empresas com receita em dólar, reduz a exposição ao risco Brasil.
2. Foco em Fundamentos Sólidos
Empresas com dívida controlada, lucros crescentes e governança transparente tendem a superar crises. Exemplos incluem Ambev (ABEV3) e Rumo (RAIL3).
3. Aposta em Commodities
Com a alta global de preços de minério de ferro, petróleo e soja, empresas como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) são opções atraentes.
O Papel do Governo Brasileiro na Mitigação de Riscos
Para evitar uma recessão, o governo precisa:
- Acelerar reformas estruturais, como a tributária, para reduzir custos produtivos.
- Fortalecer acordos comerciais com Ásia e África.
- Investir em infraestrutura, melhorando a logística de exportação.
Perspectivas para 2025: Entre Desafios e Oportunidades
Apesar dos riscos, o Brasil tem vantagens competitivas:
- Recursos naturais abundantes: Posição líder em minério, soja e carne.
- Mercado interno robusto: 214 milhões de consumidores impulsionam setores como varejo e tecnologia.
- Energia renovável: Matriz energética limpa atrai investimentos sustentáveis.
Conclusão
As medidas protecionistas de Trump representam um desafio, mas também uma oportunidade para o Brasil modernizar sua economia e reduzir dependências externas. Investidores devem equilibrar cautela com visão de longo prazo, priorizando setores alinhados às tendências globais, como tecnologia verde e agronegócio sustentável.
Enquanto o governo busca soluções macroeconômicas, empresas e indivíduos precisam adotar estratégias resilientes, garantindo que o país não apenas sobreviva às turbulências, mas emerge mais forte no cenário pós-crise.
FAQ: Perguntas Frequentes
1. Quais setores da economia brasileira são mais afetados pelas tarifas de Trump?
Os setores mais impactados são o siderúrgico (aço e alumínio), petróleo e agronegócio. Empresas como CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) sofrem com a redução das exportações para os EUA, enquanto o agronegócio enfrenta riscos de retaliações indiretas, apesar do hedge cambial em empresas como JBS.
2. Como as medidas protecionistas dos EUA afetam o dia a dia do brasileiro?
O aumento do dólar eleva custos de importação, pressionando preços de combustíveis e eletrônicos. Juros altos para conter a inflação encarecem crédito para pessoas e empresas, enquanto a incerteza global reduz investimentos, impactando empregos e renda.
3. Quais empresas da Bolsa brasileira (B3) são mais vulneráveis às tarifas?
A CSN (CSNA3), com 22% das vendas para os EUA, é a mais exposta. Já a Gerdau (GGBR4) tem menor impacto devido a operações nos EUA. A CBA (CBAV3), do alumínio, enfrenta riscos com custos energéticos, mas beneficia-se da alta global do metal.
4. Existem oportunidades de investimento nesse cenário?
Sim. Setores como energia renovável (Copel, Equatorial), saneamento (Sabesp) e commodities (Vale, Petrobras) são resilientes. Ações com receita em dólar e fundamentos sólidos, como Ambev (ABEV3), também atraem investidores em busca de segurança.
5. O governo brasileiro pode mitigar os efeitos dessas tarifas?
Sim, através de acordos comerciais (como o EUA-Mercosul), reformas tributárias para reduzir custos e investimentos em infraestrutura logística. A diversificação de mercados, especialmente para a China, é outra estratégia-chave.
6. O impacto das tarifas é realmente limitado, como dizem alguns analistas?
Em parte. Enquanto 65% do aço é consumido internamente, setores como mineração e agronegócio mantêm demanda global aquecida. Porém, a indefinição sobre o escopo total das tarifas exige cautela, especialmente para empresas dependentes do mercado americano.